Comentários em redes sociais simulam censura e a atribuem enganosamente a Alexandre de Moraes

Não há qualquer determinação do ministro Alexandre de Moraes para a remoção de comentários opinativos nessas plataformas.

alexandre de moraes
Falso
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Diferentemente do que insinuam posts nas redes sociais, não há qualquer determinação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), para a remoção de comentários opinativos nessas plataformas.

Uma série de postagens e comentários em posts usam, de forma mentirosa, o símbolo “ⓘ”, comumente associado a alertas oficiais de redes sociais, para sugerir que o comentário foi removido por ordem judicial. Há um comentário usando o símbolo, seguido da frase “Comentário removido por determinação do Ministro Alexandre de Moraes”, inclusive em um post do Comprova sobre a Lei Magnitsky – não é verdade que o comentário do usuário tenha sido removido ou tirado do ar.

A publicação investigada também ironiza o conteúdo publicado pelo Comprova, que detalha uma audiência ocorrida em 22 de maio de 2025, na Comissão de Relações Exteriores da Câmara de Representantes dos Estados Unidos. Na ocasião, o deputado republicano Cory Mills apresentou ao secretário de Estado, Marco Rubio, críticas à atuação do ministro Alexandre de Moraes. Mills acusou o magistrado de promover uma “censura generalizada e perseguição política”, com supostos impactos não apenas sobre cidadãos brasileiros, mas também sobre pessoas que residem em território norte-americano. A frase “Comentário removido por determinação do Ministro Alexandre de Moraes” aparece em tom irônico, mas sem deixar claro que se trata de uma crítica satírica.

O Comprova apurou que essa mensagem é repetida em diferentes redes sociais ao menos desde 2024 e reaparece com frequência em momentos em que decisões judiciais relacionadas a plataformas digitais ganham repercussão. A frase reforça uma visão já difundida por setores políticos simpáticos ao bolsonarismo, que rotulam Moraes como “ditador”, após decisões que determinaram o bloqueio de contas envolvidas na disseminação de desinformação eleitoral. Apesar do tom de ironia, o comentário, por ser repetido com frequência, contribui para confundir o público sobre as ações de Moraes.

Quem criou o conteúdo investigado pelo Comprova

O comentário na publicação do Comprova foi feito por um perfil privado no Facebook, e o autor não pôde ser identificado. Também não foi possível localizar outras redes associadas à mesma conta. No entanto, o mesmo conteúdo circula em postagens antigas no X, inclusive em agosto de 2024, durante o impasse entre Alexandre de Moraes e Elon Musk, dono da plataforma.

À época, o ministro ordenou a suspensão do X no Brasil após Musk se recusar a nomear um representante legal da empresa no país.

A reportagem tentou contato com a conta responsável pelo comentário, mas não obteve resposta até a publicação desta checagem.

Por que as pessoas podem ter acreditado

A repetição deste conteúdo com diferentes roupagens — seja como comentário irônico, legenda de imagem ou resposta sarcástica — ajuda a construir uma narrativa familiar e enganosa, especialmente entre os grupos mais críticos às decisões do STF. A ironia do texto e o uso de símbolos que imitam alertas oficiais de redes sociais tornam o conteúdo mais crível para parte do público, mesmo sem apresentar evidências de censura real. A escolha por uma fonte itálica serifada, diferente da utilizada pelo Instagram, reforça a ilusão de autenticidade, sugerindo que se trata de uma notificação oficial da plataforma.

O comentário enganoso ganha força diante das acusações de censura direcionadas ao ministro Alexandre de Moraes. Parte dessas acusações se apoia em decisões anteriores do ministro, como a de 2022, quando ele determinou a remoção de 135 conteúdos considerados desinformativos e que, segundo o STF, colocavam em risco a integridade do processo eleitoral.

Desde então, Moraes passou a ser alvo de críticas mais duras por setores da população, especialmente entre simpatizantes do movimento bolsonarista, que o rotulam como “ditador” e apontam as medidas como forma de perseguição política, ainda que elas estejam fundamentadas em decisões judiciais contra a desinformação.

Fontes que consultamos: O Comprova buscou no Google a frase e o símbolo usados na publicação enganosa, resultando em inúmeras postagens de diferentes redes sociais que contêm a mesma mensagem. Também foi analisado o conteúdo da matéria explicativa, que motivou o comentário investigado e, na sequência, pesquisa de reportagens da imprensa profissional que noticiaram as acusações de censura contra o ministro.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas, eleições e golpes virtuais e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova já evidenciou que é enganoso post que afirma que Alexandre de Moraes planeja “corroer a democracia por dentro” e já explicou as implicações da Lei Magnitsky, citada por secretário de Estado dos EUA como possível ferramenta de sanção a Moraes.

Notas da comunidade: Até o momento, as publicações com o falso comentário não foram notificadas pelo X ou pelo Instagram, e os conteúdos seguem disponíveis para os usuários.

Metodologia

A matéria faz parte de uma curadoria de checagens de fatos do Projeto Comprova, uma coalisão de veículos de comunicação que se dedicam a combater a desinformação da qual a Agência Tatu é integrante.

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