O novo programa de empréstimo consignado do governo federal, chamado de Crédito do Trabalhador, já liberou – desde o dia 21 de março – mais de R$ 824 milhões aos trabalhadores dos estados nordestinos. O valor médio liberado foi de R$5 mil, o menor em comparação com as demais regiões do país. Entre os estados nordestinos, Sergipe lidera com a maior média, enquanto a Paraíba tem o menor valor do país.
Os dados, analisados pela Agência Tatu, são do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e foram atualizados nessa terça-feira (8). Em todo o país, mais de 770 mil trabalhadores solicitaram 783 mil empréstimos e tiveram acesso a R$ 4,4 bilhões. A média liberada para cada um foi de R$ 5.697,84, com pagamento dividido em 16 parcelas de R$ 348,03.
Além dos valores descritos por cada estado (no mapa abaixo), os dados do MTE não mencionam os estados para onde foram liberados mais de R$1 milhão.
Apesar do valor total liberado a 162 mil trabalhadores do Nordeste, de R$ 824.268.674,91, representar 18,5% de todo recurso emprestado aos brasileiros e ser o segundo maior valor absoluto entre as regiões, os nordestinos têm a menor média de empréstimo, R$ 5.076,32. Quanto ao pagamento, o nordestino segue a média nacional do parcelamento, em 16 vezes, com valor da mensal em torno de R$ 312,17.
Na região, os sergipanos tiveram a maior média de empréstimo, aproximadamente R$ 5.395,05. Mesmo assim, o montante está abaixo da média nacional. Já os paraibanos tiveram acesso a R$4.795,87, a menor média de empréstimo entre todos os estados brasileiros. O cenário no Nordeste pode indicar um perfil de contratação mais conservador, com provável menor capacidade de endividamento ou renda mais restrita das famílias.
O economista Fábio Leão pontua que o novo consignado é vantajoso por apresentar menor juros, mas lembra que é preciso ter cautela. “É uma boa opção de crédito mais barato do que as opções do mercado tradicional de crédito, porém, os trabalhadores precisam ter um cuidado maior porque seu salário ficará contingenciado no percentual acordado com a instituição financeira. Sem planejamento financeiro a oportunidade pode se transformar em um grande risco para o trabalhador”, orienta.

Leão também aponta um perfil do brasileiro que recorre ao recurso: “A utilização do crédito pelo brasileiro pode ir diretamente para o consumo ou para resolver problemas com dívidas urgentes de curto prazo. De forma geral, o brasileiro tende a usar o crédito consignado para quitação de dívidas, despesas de saúde e educação, reformas e melhorias domésticas e, embora não recomendado, uma parcela da população pode usar o crédito para financiar bens ou viagens”. Abaixo, ele elenca algumas instruções.
6 orientações para utilizar o Crédito do Trabalhador com segurança
- Avaliar a necessidade: usar o crédito consignado apenas para necessidades essenciais ou para resolver questões urgentes, como quitar dívidas com juros altos. Evitar utilizar o empréstimo para gastos supérfluos. O crédito consignado é uma boa opção para trocar uma dívida cara por outra mais barata;
- Entender o impacto no salário: antes de contratar, calcular o impacto da parcela descontada diretamente do seu salário. Certifique-se de que o valor restante será suficiente para cobrir suas despesas mensais;
- Comparar taxas e condições: pesquisar diferentes instituições financeiras e escolher aquela que oferece as melhores taxas e condições. Não aceitar a primeira oferta sem avaliar o mercado;
- Planejar o pagamento: criar um planejamento financeiro detalhado para não comprometer o orçamento. Incluir as parcelas no cálculo das despesas fixas;
- Evitar contratar vários empréstimos: contratar múltiplos consignados pode gerar um efeito bola de neve, com grande parte do salário comprometida, dificultando o pagamento. É importante lembrar que a renda ficará menor na medida da ampliação do empréstimo contratado;
- Tenha reserva financeira: manter uma reserva para emergências e evitar depender exclusivamente do crédito consignado para resolver problemas inesperados.

Como funciona o empréstimo consignado:
- Para requerer a proposta de crédito, o trabalhador precisa baixar o aplicativo da Carteira de Trabalho Digital (CTPS Digital) e autorizar as instituições financeiras habilitadas pelo Ministério do Trabalho a acessar dados como nome, CPF, margem do salário disponível para consignação e tempo de empresa;
- Tem direito de realizar o empréstimo o trabalhador com carteira assinada, inclusive rurais e domésticos, além trabalhadores CLT contratados por MEIs; O trabalhador pode usar até 10% do saldo no FGTS para garantias e ainda 100% da multa rescisória em caso de demissão;
- As parcelas do empréstimo serão descontadas na folha do trabalhador mensalmente, por meio do eSocial, observada a margem consignável de 35% do salário. Após a contratação, o trabalhador acompanha mês a mês as atualizações do pagamento. A partir de 25 de abril, o trabalhador também poderá fazer contratações pelos canais eletrônicos dos bancos;
- Os trabalhadores que já têm empréstimos com desconto em folha podem migrar o contrato existente para o novo modelo a partir de 25 de abril deste ano;
- No caso de desligamento, o desconto será aplicado sobre as verbas rescisórias, observado o limite legal.
O programa Crédito do Trabalhador foi instituído por meio da Medida Provisória nº 1.292, de 12 de Março de 2025, que alterou a Lei nº 10.820, de 17 de dezembro de 2003. O governo federal disponibilizou informações para tirar dúvidas de trabalhadores e também dos empregadores.