Em 20 de novembro é celebrado o Dia da Consciência Negra. Mesmo 326 anos após a morte de Zumbi dos Palmares, que lutava no Quilombo pela libertação de seu povo, e 133 anos da abolição da escravatura, o período de escravidão ainda é refletido na vida dos negros de todo o país. Na educação, são os que mais sofrem com a desigualdade, sendo a raça com maior taxa de analfabetismo em todos os estados brasileiros.
Ainda de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), analisados pela Agência Tatu, no Nordeste, onde o analfabetismo é historicamente maior que no resto do país, a população negra é ainda mais afetada por essa injusta realidade.
Em Alagoas, enquanto 12,3% dos alagoanos brancos são analfabetos, entre os negros esse índice é 18,6%, o que representa 363 mil pessoas que não foram alfabetizados e não são capazes de escrever. Os cálculos da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua Anual (Pnad), realizada em 2019 pelo IBGE, levam em consideração todas as pessoas com mais de 15 anos de idade para o cálculo de analfabetismo.
Mesmo em regiões mais ricas, onde o índice de analfabetismo geral é menor, a discrepância educacional entre negros e brancos permanece. Confira no mapa.
De acordo com o diretor do Núcleo de Estudo Afro-brasileiros e Indígenas da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), Danilo Luiz Marques, durante o período da escravidão, as pessoas negras eram impedidas de frequentar as escolas e quando houve a abolição, em 1888, não foi pensado no acesso à cidadania. “Você vai produzir gerações de negros e negras que não vão ter acesso à escola”.
Ainda segundo o pesquisador, a população negra, descendente dos escravos, entrou na escola tardiamente. “É importante ações afirmativas, as cotas, para poder inserir e fazer essa reparação histórica do direito básico que foi negado durante um bom tempo que é o acesso à educação, que é o acesso à escola nesse país”, explicou.
DESIGUALDADE NA EDUCAÇÃO SUPERIOR
Ainda de acordo com a última Pnad, dos 209 milhões de brasileiros
(estimativa populacional de 2019), mais de 117 milhões são negros e negras, o que representa cerca de 56% da população. No entanto, quando se observa diferentes setores da sociedade, a participação dos negros não acompanha o percentual populacional, o que mostra que a desigualdade racial ainda persiste no Brasil.
Um exemplo disso é o acesso à educação superior: somente 37,39% das pessoas que já frequentaram a faculdade no Brasil são negras. Mais de 60% da população com acesso ao ensino superior é branca.
A região onde menos negros tiveram acesso às cadeiras universitárias é o Sul, onde apenas 13,59% das pessoas que já as frequentaram são pretas ou pardas. Já a região onde a população negra mais teve acesso ao ensino superior é o Norte, correspondendo a 68,61% de toda a população que já frequentou uma faculdade.
Ainda de acordo com Danilo, essa desigualdade no acesso à educação poderia ser resolvida com investimento na área. “Muitas dessas questões, a gente consegue resolver também com adoção de políticas de ações afirmativas, que são políticas públicas que visam reparar desigualdades históricas. Uma delas seriam as cotas, mais investimentos na área da saúde da população negra, distribuição de livros gratuitos, de cursos”, afirmou.
MEDIDAS PARA SE ALCANÇAR UMA EQUIDADE SOCIAL
Os problemas de desigualdades sociais existentes no país precisam de grandes mudanças.“Na área da cultura, no teatro, na música, no cinema, que carecem de editais públicos para o desenvolvimento delas, sobretudo no estado de Alagoas. Então, todas essas desigualdades históricas, só vão ser combatidas quando tivermos políticas públicas e sobretudo políticas educacionais que trabalhem com a ideia de equidade”, pontuou.
O pesquisador ainda falou sobre as empresas têm adotado formas de equidade em processos seletivos, com o objetivo de priorizar grupos minoritários para garantir o acesso ao mercado educacional e também de trabalho.“É uma ponta do iceberg de extrema importância pra gente poder ter pessoas negras, indígenas, quilombolas, ciganos em espaço de poder ou até ter acesso a um mercado de trabalho mais do que já é possível”, finalizou.
*Estagiárias sob a supervisão da Editoria