Maceió é a 4ª capital mais desigual do país; entenda

Dados de 2020 apontam que os 10% mais ricos da cidade detêm sozinhos 46% da soma da renda de toda a população

foto jonathan lins - Maceió é a 4ª capital mais desigual do país; entenda
Compartilhe

Enquanto em 2019 Maceió ocupava a 19ª posição no ranking de concentração de renda entre os mais ricos, em 2020 a cidade saltou para a 4ª posição entre as capitais mais desiguais. É o que apontam os dados da Síntese de Indicadores Sociais do IBGE analisados pela Agência Tatu. A capital alagoana fica atrás apenas de Cuiabá (MT), Salvador (BA) e São Paulo(SP).

Para entender como é distribuída a renda entre os cidadãos, o IBGE dividiu a população em 10 grupos de renda. Essa divisão mostra desde os 10% da população com a menor renda até os 10% com a maior renda.

O quadro completo mostrado no gráfico representa a soma da renda de todos os maceioenses. Ou seja, cada uma das frações possui a mesma quantidade de pessoas, mas diferentes rendas (que determinam o tamanho de cada retângulo): enquanto os 10% mais ricos detêm quase metade de toda a renda dos moradores da cidade (46%), a parcela dos 10% mais pobres precisa se contentar com apenas 1,2% desta divisão.

Entenda essa divisão em Maceió no gráfico abaixo.

Para exemplificar podemos pensar em uma cidade hipotética com apenas 10 habitantes e a mesma distribuição de renda de Maceió. Caso a renda recebida por todos os 10 habitantes da cidade somassem R$10 mil, os três moradores mais ricos receberiam, respectivamente, R$4.620, R$1.390 e R$950. Na mesma hipótese, os três habitantes mais pobres ganhariam R$120, R$270 e R$360.

A pesquisa do IBGE mostra ainda que ao longo dos anos esse abismo de renda entre os mais ricos e os mais pobres persiste em todos os lugares do país. No entanto, a pandemia aumentou muito essa distância na capital alagoana.

Em 2019, entre as 27 capitais do país, Maceió era a 19ª com a maior concentração de renda na parcela mais rica da sociedade. Com a chegada da pandemia da Covid-19, a cidade passou a ser a 4ª capital do país em que os 10% mais ricos concentram o maior percentual da renda da população.

O economista Lucas de Barros lembra que a desigualdade e a crise econômica já existiam antes de 2020, mas que foram agravadas pela crise sanitária que surgiu naquele ano. “Houve demora na criação de políticas sociais que garantissem renda à população mais pobre e isso intensificou a desigualdade social que já existia. Podemos ver isso nos dados divulgados pelo IBGE, mas também nos sinais, marquises e bairros pobres da cidade”, comenta.

Para ele, a crise econômica afeta de maneiras diferentes cada classe social. “Os produtores e comerciantes conseguem reajustar os valores de suas mercadorias com maior velocidade. Os que possuem capital (terra, imóveis, ações, etc.), conseguem encontrar mecanismos de defesa da inflação. Enquanto o trabalhador no máximo aguardará pelo reajuste nominal do seu salário (sem ganhos reais) ao virar do ano”, conclui.

“Podemos ver a desigualdade nos dados divulgados pelo IBGE, mas também nos sinais, marquises e bairros pobres da cidade.”

— Lucas de Barros (economista)


Já para o economista Jarpa Ventura de Andrade, as pessoas com maior renda, como empresários e funcionários públicos com maiores salários, possuem maior capacidade de fazer reservas financeiras para poder utilizar nos momentos de crise e assim se proteger melhor contra imprevistos.

Citando um documento publicado pelo Instituto Econômico de Pesquisa Aplicada (IPEA), Andrade lembra que os produtos e serviços consumidos pelos mais ricos e pelos mais pobres também são diferentes ou possuem pesos diferentes na vida das pessoas de diferentes classes sociais. E isso faz com que a inflação atinja mais fortemente as pessoas que já eram mais vulneráveis socialmente. “Enquanto as pessoas com menor poder aquisitivo estão preocupadas com alimentação, higiene pessoal e limpeza. A outra classe está mais preocupada, por exemplo, com as viagens ou com o turismo que deixou de fazer”, diz.

Dados abertos

Prezamos pela transparência, por isso disponibilizamos a base de dados e documentos utilizados na produção desta matéria para consulta:

Encontrou algum erro? Nos informe por aqui.

Recomendado para você

crédito do trabalhador

Em três semanas, Crédito do Trabalhador já emprestou mais de R$824 milhões no Nordeste

Região tem menor valor médio de empréstimo do novo consignado; confira
11.07 Motoristas app CAPA - Motoristas e entregadores de aplicativo do Nordeste recebem 40% menos

Motoristas e entregadores de aplicativo do Nordeste recebem 40% menos

Maioria dos trabalhadores nas plataformas digitais na região são negras, segundo pesquisa do IBGE
Nordeste enfrenta desafio de reter mão de obra qualificada

Nordeste enfrenta desafio de reter mão de obra qualificada

Dados do IBGE mostram que êxodo de nordestinos é influenciado pelo amplo mercado em outros estados
Taxa de iluminação pública em AL chega a ser 40% do valor da conta de energia

Alagoanos pagam até 40% da conta de luz em taxa de iluminação pública; entenda como a tarifa é calculada

OAB/AL alerta que cobrança não é transparente e pode ferir o Código de Defesa do Consumidor