Motoristas e entregadores de aplicativo do Nordeste recebem 40% menos

Maioria dos trabalhadores nas plataformas digitais na região são negras, segundo pesquisa do IBGE

11.07 Motoristas app CAPA - Motoristas e entregadores de aplicativo do Nordeste recebem 40% menos
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Os trabalhadores de aplicativo dos estados do Nordeste recebem, em média, 40,8% menos que os das demais regiões do Brasil. De acordo com dados de pesquisa inédita e experimental do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), analisados pela Agência Tatu, todos os estados do Nordeste estavam entre os dez piores rendimentos mensais em 2022.

A pesquisa considerou motoristas, entregadores e prestadores de serviços por plataformas digitais. Apesar da região Nordeste ser a segunda maior do país em números absolutos de trabalhadores nesse setor, ficando atrás apenas do Sudeste, os ganhos médios ainda são muito abaixo da média nacional, que é de R$ 2.592 mensais. 

Maranhão, Ceará e Bahia se destacam como os estados com os menores rendimentos do país para motoristas, com rendimentos menores que R$ 1.500. Enquanto um trabalhador de aplicativo recebe por mês, R$3.242 em São Paulo, maior média do país, no Maranhão recebe R$ 1.440, no Ceará R$1.450 e na Bahia R$ 1.477.

Perfil e carga horária dos motoristas

Mesmo com a remuneração mais baixa, a carga horária de trabalho dos estados do Nordeste é semelhante a de outras regiões do país que apresentam uma média de 37 a 40 horas semanais. Pernambuco (39,3), Alagoas (38,3) e Rio Grande do Norte (37,6) são os estados com as maiores cargas horárias da região.

No Nordeste, esse cenário é formado principalmente por pessoas negras, a região apresenta 75,41% de trabalhadores de aplicativo que se autodeclaram pretos ou pardos, um número superior ao de 24,40% de brancos na mesma função. Essa proporção de entregadores negros e brancos superam significativamente a média nacional. No Brasil, 55,5% dos entregadores são negros, enquanto 44,4% são brancos.

Além disso, esse rendimento está também diretamente ligado à escolaridade, 41,7% possuem apenas o ensino médio completo ou superior incompleto, faixa que recebe em média R$ 1.499. Já quem tem ensino superior completo ganha, em média, R$ 3.716.

Esses motoristas ainda lidam com os desafios ligados à vulnerabilidade no trânsito, medo de assaltos e a insegurança em algumas rotas. As mulheres enfrentam ainda mais riscos, como assédio. Este é o caso de Sara Leite, de 23 anos, estudante da Universidade Federal de Alagoas, que trabalhou como motorista de aplicativo por mais de um ano.

Motorista por aplicativo
Foto: Arquivo Pessoal

“Eu soube desse tipo de trabalho pela internet e vi que dava pra tirar um dinheiro bom de forma independente, e o fato de não ter horário fixo iguais a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) me chamou mais ainda atenção. Eu trabalhava em uma farmácia e só quis sair, porque era muito exaustivo a escala 6×1, que inclui feriados e festas como ano novo e natal”, conta Sara.

Na época, o trabalho como motorista de aplicativo era sua única fonte de renda e proporcional à sua disponibilidade de tempo e esforço. “No início eu trabalhava de 14h às 23h, mas não conseguia conciliar com a faculdade. Então passei a trabalhar apenas por volta de 4h ou 5h diárias, mas, consequentemente, acabei ganhando menos que a média, e por isso já trabalhei mais de 10 horas para fazer o dobro. Em período de festas ou feriados eu conseguia trabalhar mais e rodava por volta de 50 ou 60/horas semanais”.

Após trabalhar por mais de um ano, ela reconhece os riscos.  “Eu tinha medo também de ser assediada ou assaltada. E ainda sofri com problemas de saúde. Eu tinha muita dor nas costas e fiquei muito doente por conta das chuvas, já fiquei uma semana sem trabalhar, nesse período não tive renda e tive que economizar mais”.

Situações como a de Sara são comuns. Segundo o IBGE, mais de 57,5% dos trabalhadores de aplicativo no Nordeste não fazem qualquer contribuição ao INSS. Isso significa que estão fora da proteção previdenciária: sem acesso à aposentadoria, auxílio-doença, licença-maternidade ou cobertura por acidente de trabalho.

Sara tem agora o aplicativo como uma renda extra, já que se tornou estagiária em sua área de estudos. “Esse trabalho é muito cansativo e eu preciso investir tempo no que eu acredito que vai dar mais dinheiro para mim e mais tranquilidade no futuro. Atualmente, eu ganho menos dinheiro do que se eu trabalhasse só com o aplicativo, mas eu acredito que eu estou investindo no conhecimento. Eu ganho menos agora para poder estudar mais”, finaliza a universitária.

Metodologia

Estagiária sob supervisão*

Dados abertos

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