Nordeste enfrenta desafio de reter mão de obra qualificada

Dados do IBGE mostram que êxodo de nordestinos é influenciado pelo amplo mercado em outros estados

Nordeste enfrenta desafio de reter mão de obra qualificada
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Entre 2010 e 2022, o número de nordestinos vivendo fora da região saiu de 9,55 milhões para 10,37 milhões, segundo dados do último do Censo do IBGE, analisados pela Agência Tatu. No entanto, a proporção de pessoas do Nordeste vivendo em outras regiões reduziu de 28,54% para 28,04%. O pesquisador da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Wellington Justo, destaca que políticas de desenvolvimento regional poderiam manter trabalhadores na própria região.

A maior concentração de pessoas que saíram da região para morar em outros lugares continua sendo no Sudeste, especialmente em São Paulo. No entanto, o Sul foi a região com crescimento proporcional mais expressivo, quase dobrando a quantidade de moradores naturais do Nordeste; o Centro-Oeste também apresentou expansão, mesmo que mais moderada. 

Em contrapartida, a migração para a região Norte teve queda, com o percentual de nordestinos reduzindo de 8,24% em 2010 para 6,84% em 2022.

Apesar de São Paulo concentrar o maior número de nordestinos, mais de 5 milhões, o crescimento mais expressivo ocorreu em Santa Catarina, que passou de 59 mil, em 2010, para 216 mil em 2022, aumento de 265%. Em seguida, aparecem o Rio Grande do Sul, saindo de 30,6 mil para 62,7 mil (+105%), e Mato Grosso, que tinha 204 mil e passou a ter 302 mil (48%).

Em termos regionais, o Sudeste segue com o maior contingente de nordestinos: 6,7 milhões vivem em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo. Entretanto, o maior crescimento proporcional entre os dois censos foi registrado no Sul. Em 2010, a região contava com 289 mil pessoas nascidas no Nordeste e em 2022 esse número subiu para 522 mil, uma alta de 80%.

Enquanto nas demais regiões cresce o número de pessoas nascidas no Nordeste, no Norte o cenário é oposto. Houve queda de 9% nos últimos anos: de 1,3 milhão em 2010 para 1,1 milhão em 2022. O estado de Rondônia registrou a maior redução, de 24%, seguida pelo Acre, com 23%, que também é o estado com o menor número de nordestinos, cerca de 10 mil.

Fatores econômicos podem justificar a migração

O economista Wellington Justo, doutor em Economia e professor da Universidade Regional do Cariri (PPGERU-URCA) e da Universidade Federal de Pernambuco (PPGECON-UFPE), lembra que a migração é um fenômeno complexo, que exige investigação detalhada para conclusões definitivas. Ainda assim, aponta fatores econômicos como uma das principais hipóteses. 

“Entre os motivos estão a menor dinamização econômica do Nordeste, agravada pela recessão de 2015–2016 e pela pandemia, além das secas prolongadas no semiárido. Desemprego, informalidade e subutilização da força de trabalho têm forte relação com esses fluxos”, explica.

O especialista também destaca que a presença prévia de familiares no destino é um fator muito importante, por reduzir os custos psicológicos e econômicos da migração. E isso seria impulsionado pelo maior acesso à informação sobre os destinos.“A conectividade facilita tanto a identificação de áreas mais atrativas quanto a percepção sobre contextos de maior dificuldade de inserção no mercado de trabalho, influenciando diretamente a escolha do destino e a avaliação de riscos”, pontua.

Justo observa que a migração para o Sul e Centro-Oeste pode ser impulsionada pelo agronegócio, pela construção civil e pelos serviços urbanos. Para conter o êxodo, defende medidas integradas capazes de reter a população, especialmente os jovens. 

O preço para realizar sonhos

Conforme mencionado pelo doutor e professor Wellington Justo, um dos motivos para sair da região é a busca por trabalho. Em 2020, o jovem alagoano Marcelo Souza deixou Santana do Mundaú em busca de melhores oportunidades em Tabaporã, no Mato Grosso. Ele conta que foi uma decisão difícil, mas motivada pela falta de empregos na cidade do interior alagoano. 

“Gosto de morar em Mundaú, mas lá não tem tantas oportunidades. Vim para cá para conquistar meus objetivos e evoluir na vida”, relata.

Marcelo Souza - Nordeste enfrenta desafio de reter mão de obra qualificada
Marcelo Souza precisou deixar município alagoano para exercer profissão

A mudança foi facilitada por conhecidos que já trabalhavam na região e conseguiram uma vaga para ele antes mesmo da viagem. “Já cheguei com o emprego certo”, relembra. 

Desde então, Marcelo trilhou um caminho de ascensão profissional: passou por funções como assistente administrativo e auxiliar, até chegar ao cargo atual de almoxarife. Ele pretende voltar para Santana do Mundaú apenas quando atingir suas metas. “Quero trabalhar mais um pouco, conquistar o que imagino, e só então voltar. Meu objetivo é lutar para alcançar os sonhos e nunca desistir”, afirma.

Faltam políticas públicas

Assim como Marcelo, muitos profissionais não conseguem exercer cargos na região de origem. Para manter esses trabalhadores no Nordeste, o pesquisador Wellington aponta ações efetivas com políticas públicas e iniciativas privadas para que o êxodo nordestino seja combatido. 

“Existem algumas frentes possíveis, como o fortalecimento de políticas de desenvolvimento regional, investimentos em infraestrutura e melhoria da qualidade de vida urbana, além de programas de qualificação profissional orientados à realidade produtiva local. Iniciativas nesse sentido poderiam tornar o Nordeste mais atrativo à retenção de sua população, especialmente entre os jovens economicamente ativos”, afirmou. 

Dados abertos

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