Instrumentos importantes para a prevenção e responsáveis pela erradicação de diversas doenças no país, as vacinas disponibilizadas nas unidades de saúde pelo Programa Nacional de Imunização tiveram uma baixa adesão durante o ano passado, conforme dados coletados pela Fiquem Sabendo e analisados pela Agência Tatu.
Levando em consideração a média das 24 vacinas ofertadas atualmente pelo Sistema Único de Saúde, a cobertura geral atingida em Alagoas foi de 59,29% no ano passado, a menor desde 2016, quando o número atingido foi de 44,88% do público estimado. A cobertura alcançada em 2020 é ainda a segunda menor desde 1998 e uma das menores da série histórica. Veja o gráfico.
A cobertura vacinal de Alagoas foi a 3ª menor do Nordeste no ano passado, ficando atrás apenas do Maranhão (50,36%) e de Sergipe (58,73%). Imunizantes como BCG, Hepatite B para bebês de até 30 dias, Poliomielite para crianças de 4 anos, Pneumocócica, Meningococo C, Tríplice Viral e Tríplice Bacteriana Acelular do Tipo Adulto tiveram o pior desempenho da série histórica, que vai de 1995 a 2020.
Vale ressaltar também que muitos imunizantes foram inseridos no calendário vacinal brasileiro ao longo dos anos.
Baixa adesão às vacinas preocupa órgãos de saúde
De acordo com o presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Juarez Cunha, essa redução já era observada em todo mundo e, aqui no Brasil, desde 2015. “Tanto é que em 2019 para nenhuma das vacinas aplicadas no primeiro ano de vida a gente conseguiu atingir a meta. Isso já era alertado pelo Ministério da Saúde e Organização Mundial da Saúde. Em 2019, a OMS chama a atenção sobre a hesitação de vacinar, que é considerada uma das 10 ameaças para a saúde pública mundial”, explicou.
Entre as causas apontadas pela OMS estão os chamados três Cs: confiança, complacência e conveniência. A confiança não se refere à eficácia do produto apenas, mas tem relação com a confiança nos governantes, instituições e profissionais de saúde. A complacência é uma falsa sensação de segurança, porque muitos pais não tiveram contato com as doenças erradicadas pelas vacinas e, assim, não vêem a necessidade de vacinar seus filhos. Já a conveniência se refere ao acolhimento da unidade de saúde, horário de atendimento, espaço físico e da compreensão dos profissionais de saúde.
Durante a pandemia da Covid-19 mais dois Cs foram incluídos na lista: Comunicação e contexto. No primeiro caso é a forma que os órgãos oficiais comunicam a importância dos imunizantes e sua eficácia, enquanto o segundo é sobre a vulnerabilidade de determinadas populações.
Ainda segundo o presidente da SBIm, alterar todos esses fatores é um desafio, e não garantir a imunização da população traz sérios riscos à população, como a possibilidade de reintrodução de doenças já erradicadas ou aumento de casos de doenças consideradas controladas.
“Em 2018 tivemos a reintrodução do sarampo, devido à baixa cobertura vacinal. Outras doenças já erradicadas sofrem o mesmo risco, como a poliomielite, rubéola congênita e materna, além de tétano neonatal. Todas as outras doenças que temos vacina na infância foram controladas, com redução dos casos que variam de 70% a mais de 90%, como a coqueluche e meningites”, alertou Cunha.
Por fim, o presidente da SBIm ainda reforçou o risco de aumento de casos de doenças respiratórias a partir dos próximos meses. “Vale salientar que durante a pandemia todas as doenças de transmissão respiratória diminuíram muito por conta das medidas restritivas, mas a tendência é voltar com força com o retorno das atividades, das aulas e com a população não vacinada”, finalizou.
A enfermeira do Programa Nacional de Imunização de Alagoas, Emily Silva, a pandemia e movimentos “antivacina” motivaram a redução da procura das unidades de sa´úde. Ela falou ainda que no estado o incentivo à vacinação é feito também pelos municípios.
“Atualmente estamos com a Campanha Nacional de Multivacinação para atualização da caderneta de vacinação de crianças de adolescentes que teve início dia 1º de outubro. Desta forma, Alagoas conta com a parceria das equipes de vacinação para um chamamento mais preciso e até mesmo busca ativa nos municípios que têm cobertura total da Estratégia Saúde da Família”, relata.
Por se tratar de uma campanha que contempla crianças e adolescentes em idades escolares muitos municípios contam ainda com o apoio do Programa Saúde na Escola, para contemplar um público maior na faixa etária preconizada (menores de 15 anos).
*Atualizada em 14 de outubro, às 8h50