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Escola doce lar Pequenos alagoanos voltam às creches e pais destacam importância do desenvolvimento infantil Após quase um ano e meio longe do ambiente escolar, os pequenos alagoanos começam a voltar às creches e escolas de educação infantil em todo o estado. Durante o período em que os cuidados e distanciamento eram ainda mais importantes,

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Pequenos alagoanos voltam às creches e pais destacam importância do desenvolvimento infantil

Após quase um ano e meio longe do ambiente escolar, os pequenos alagoanos começam a voltar às creches e escolas de educação infantil em todo o estado. Durante o período em que os cuidados e distanciamento eram ainda mais importantes, esses equipamentos precisaram se readequar à nova realidade e adotar modelo de ensino remoto. Para crianças, pais e professores de estudantes dos 0 aos 6 anos essa realidade foi ainda mais desafiadora.

Mesmo com atividades educacionais mais voltadas para interação e conhecimentos da criança com a sociedade e seus elementos, a pandemia da Covid-19 mostrou a importância da educação infantil para a forma como os pequenos veem e se relacionam com o mundo.

Desde o fim de agosto, as escolas começam mais uma experiência: a modalidade híbrida, em que os estudantes têm acesso às aulas presenciais em alguns dias e remotas nos outros.

Na cidade de Maceió, capital de Alagoas, muitas escolas já funcionam neste modelo. Entre elas o Centro Municipal de Educação Infantil (CMEI) José Madltton Vitor da Silva, uma creche da periferia da cidade. Lá foram 18 meses longe do contato físico tão presente entre os professores e os pequenos estudantes do Benedito Bentes, bairro mais populoso da cidade com mais de 107 mil habitantes. A unidade separou as turmas em grupos, que vão à escola presencialmente duas vezes na semana.

“Um grupo vem segunda e quarta e outro terça e quinta. A gente trabalhou toda a pandemia, com aulas remotas. E a educação infantil fica um pouco mais complicada porque eles dependem das famílias, eles não têm celular. Então fica mais difícil. A professora conversa com eles e lança um desafio para que em casa eles pratiquem algo”, explica a diretora do CMEI, Carmen Lúcia.

O misto de ansiedade e alegria é perceptível ao acompanhar o primeiro dia das atividades presenciais dos pequenos estudantes de Maceió. Para Wedja da Silva, mãe do Lucas Ramos, que tem 5 anos, as dificuldades no período em que as aulas eram remotas foram grandes, principalmente com a cobrança diária do filho para o retorno do convívio com as tias e colegas.

“Foi difícil, mas tinha algumas atividades que ela mandava para eles fazerem, desenhar, contar historinha, mas a escola é muito melhor. Eles sentiam muita falta. Queria ver os colegas: ‘mãe quando vou para escola? Queria ver os colegas pra brincar’. Graças a Deus está voltando”, relatou a mãe.

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Vera Lúcia e o seu neto Júlio César, de 6 anos (Foto: Lucas Thaynan/Agência Tatu)

Responsável por Júlio César, 6 anos, a avó do menino, dona Vera Lúcia, conta que todos os dias o pequeno falava em voltar para a escola. Neste caso, além das tias e dos coleguinhas, uma saudade peculiar era sentida: do galo da creche, que conta com um galinheiro e uma horta. Este local serve para que as crianças desenvolvam cuidados com o meio ambiente e os seres vivos.

“A gente fez uma gincana com as crianças ano passado e trabalhou no plantio, porque aqui a gente trabalha muito plantando e colhendo. Eles também fizeram em casa, mostraram e a gente acompanhou o desenvolvimento. As famílias amam. A gente tem uns vídeos interessantíssimos de crianças, em um deles a mãe gravou um vídeo e mandou pra gente. Ela pergunta: ‘você tá com saudade? Tá com saudade das titias?’. E a criança responde: “Não, do tio Galo”, contou a diretora do CMEI.

CMEI José Madltton, em Maceió
















Atravessando a Lagoa Mundaú chegamos a cidade do primeiro presidente do Brasil, Marechal Deodoro. Por lá, as aulas presenciais também já começam a retornar, inclusive para a educação infantil. Além das crianças, os pais respiram mais aliviados por terem um local que consideram seguro e importante para o desenvolvimento de seus filhos.

“Como Benjamin Gabriel é autista foi um desafio, tá sendo um desafio ainda pra mim porque eu como mãe estou tentando me adaptar a situação, a necessidade dele. A escola pra ele é fundamental, quando ele retornou eu percebi a melhora, porque, por exemplo, a fala diminuiu, como se tivesse voltando à fase de bebê e ele já tinha três anos. A gente conseguiu adaptar alguns jogos em casa, musicais que ele gosta muito e a questão também da leitura”, relata Ana Paula, mãe do Benjamin de 4 anos, que estuda no Núcleo de Educação Infantil (NEI) Maria Irene da Silva.

Ana Paula conta ainda que, no começo, ficou temerosa com relação à possibilidade de contágio por covid-19, já que a criança não se adaptou bem ao uso da máscara, mas que ao ver os protocolos adotados se sentiu mais aliviada e segura. “Quando ele chegou aqui ele viu a estrutura toda adaptada e os profissionais completamente voltados para o desenvolvimento dele, aí eu fiquei muito feliz e foi uma forma de trazê-lo para o mundo da infância, porque ele estava se isolando”, disse.

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Ana Paula e o seu filho Benjamin Gabriel (Foto: Lucas Thaynan/Agência Tatu)

Já o pai, José Valmir da Silva Santos, reforçou que o período sem as atividades presenciais foi desafiador. “As crianças sentiram muita falta. Inclusive o mais novo, que é especial, ele que sentiu mais. Ele até já tava falando um pouco mais. Mas, durante a pandemia, ele parou de falar e agora ele já tá começando a falar de novo”, completou o pai.

Além dos elementos da educação formal, nesta idade a interação com outras crianças é fundamental. “Não há uma metodologia de ensino, mas uma proposta pedagógica que tem como eixos norteadores de toda ação pedagógica a brincadeira e as interações. A proposta de trabalho para a Educação Infantil rompe com o modelo tradicional de escolarização das outras etapas da Educação Básica”, explica a coordenadora de ensino infantil de Maceió, Patrícia Gomes.

Evasão escolar

Para evitar a evasão escolar e manter o vínculo com as famílias, o CMEI de Maceió adotou a estratégia de criar grupos em aplicativos de conversa e manter um contato frequente com os pais e responsáveis. “Este período foi um sofrimento, mas as crianças ligavam e mandavam mensagem pra gente, porque a gente tem um grupo de famílias. Para nossa relação de trabalho é necessário estar junto com a comunidade e com as famílias. Quando aconteceu a pandemia, esse grupo já existia, então a gente veio a se unir mais”, conta a diretora Carmen Lúcia.

Ela relatou ainda que, enquanto outras escolas apresentaram problemas com a evasão dos estudantes, este não foi o caso da José Madltton Vitor da Silva. “Na sexta-feira, o Luan veio com a gente colher batata e, na hora de ir embora, foi chorando. Eles amam estar aqui nesse CMEI e sentem muita saudade”, reforça ainda a diretora.

Já na escolinha de Marechal, a diretora relata que percebeu uma evasão na volta às aulas. “As crianças estão retornando, no início não vinham todas, mas aos poucos estão retornando. Nós conseguimos resgatar todas fazendo esse trabalho ligando e conversando com os pais. Os alunos têm um espaço digno, uma merenda perfeita, nutritiva e, o melhor, um ensino de qualidade”, explica Rosângela dos Santos Costa.

De acordo com dados mais recentes divulgados pelo Ministério da Educação, em 2019, Alagoas teve 296.712 alunos matriculados em creches e pré-escolas do estado, sendo a maioria em instituições da Rede Municipal (236.286).

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Já com relação a raça e cor, a maioria dos alunos da primeira infância matriculados foram declarados como pardos (79,68%), em seguida brancos (16,99%) e depois pretos (2,08%). Indígenas e amarelos contabilizaram menos de 1% dos alunos em creches no estado, com 0,79% e 0,46%, respectivamente

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Aprender brincando

A diretora do CMEI também explica que a metodologia de ensino destas crianças não consiste em simplesmente um sistema de aulas, mas sim um trabalho mais amplo que envolve o desenvolvimento infantil.

“Porque a gente não trabalha com aulas, a gente trabalha com interações. As famílias correm muito atrás de aulas de escolarização na educação infantil, mas aqui a gente desmistifica isso, porque a criança não aprende só sentando e ficando aquele período preso. A criança aprende no dia a dia e a gente tem um trabalho voltado para o meio ambiente, em que as crianças aprendem com isso”.

Patrícia Gomes explica ainda que os Centros Municipais de Educação Infantil estão estruturados em espaços que convidam as crianças a fazerem descobertas e a desenvolverem suas potencialidades. “Os espaços abertos e as salas de referência são organizados em áreas de interesses de maneira que estimulem as crianças, por meio da brincadeira e das interações, com a mediação dos adultos, a explorarem, fazerem descobertas e estimularem a sua curiosidade”, detalha.

Os trabalhos desenvolvidos em Marechal com os pequenos acontecem por meio de atividades que buscam iniciar a criança no ambiente escolar, trabalhando a coordenação e toda a aprendizagem. “Esta é uma fase que não pode ser pulada, porque vai atrapalhar muito lá na frente e a gente tem que trabalhar agora da melhor forma possível”, informa Rosângela.

Sem aulas presenciais, pais precisam se virar

A jornalista Thayanne Magalhães tem vivido uma tripla jornada desde o início da pandemia. Mãe solo, a jornalista precisa dar conta do trabalho, que atualmente está em modelo híbrido, dos filhos e da educação formal dos dois pequenos. Como as aulas presenciais da escola de Vicente, 4 anos, ainda não retornaram, a mãe o auxilia também nas tarefas e atividades escolares. Gabriel, seu filho de 8 anos, já frequenta a escola presencialmente duas vezes por semana.

“Tem sido extremamente cansativo dar conta das pautas jornalísticas nos dois horários, falar ao telefone com entrevistados enquanto eles brincam e fazem barulho, ao mesmo tempo que preciso preparar as refeições, dar atenção aos dois quando estão em conflito, manter a casa limpa e ainda ter uma pausa para as atividades escolares”, disse a jornalista. “Posso falar que o home office é muito mais cansativo do que ir para a redação enquanto as crianças estão na escola. Com o retorno das aulas, mesmo que híbrido, retira um pouco da sobrecarga”.

Para manter o vínculo com a escolinha de Vicente, Thayanne precisa estar sempre atenta também ao WhatsApp e as tarefas enviadas pelo aplicativo. “No caso da unidade escolar de Vicente, ainda falta reforma para iniciar as aulas híbridas. Atualmente a professora da turma tem um grupo no WhatsApp onde passa atividades duas vezes por semana e faz transmissão em vídeo para interagir com as crianças”.

A mãe de Vicente e Gabriel conta que se sente segura já que, com o avanço da imunização, os professores foram vacinados e os protocolos estão sendo seguidos.  “Meu filho mais velho está em ensino híbrido e percebo um cuidado desde a entrada na escola, as turmas divididas para que tenha um número menor de crianças na sala, uso obrigatório de máscaras e álcool”, finaliza Thayanne.

Em nota, a Prefeitura de Maceió informou que as aulas na Escola Municipal Pompeu Sarmento já tiveram início, mas que seguem convocando as turmas aos poucos. A previsão é que todas as turmas retornem, no modelo híbrido, até o dia 11 de outubro.

Protocolos sanitários

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Crianças passam álcool nas mãos para entrar na creche (Foto: Lucas Thaynan/Agência Tatu)

Para a volta do ensino na modalidade híbrida foi necessária a adequação da estrutura das escolas. Além disso, que profissionais e alunos usem máscara e mantenham a higienização constante das mãos. Regras que precisam ser inseridas no cotidiano das crianças, como explica a diretora Carmen Lúcia. “Tem até ali uma criança de dois anos que a gente já trabalha com a família também e ele já vem com essa orientação, a Secretaria também nos ajudou, trouxe os equipamentos de segurança como máscara, álcool gel e tapete sanitário”.

Como conta a diretora Rosângela dos Santos, antes da volta muitos pais estavam inseguros. “Eles estavam realmente com medo, ansiosos, preocupados, mas nós mostramos a eles que poderiam mandar as crianças com toda segurança, porque nós estamos aqui obedecendo todos os protocolos”, afirmou.

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Crianças esperam em marcações no piso para entrar na sala de aula (Foto: Lucas Thaynan/Agência Tatu)

Creche Maria Irene, em Marechal Deodoro
















Assista a reportagem em vídeo

Publicado em 04 de outubro de 2021

Reportagem Graziela França, Lucas Maia, Mariane Rambo

Imagens Lucas Thaynan

Edição de vídeo Rafa Movie

Dados Lucas Maia

Layout página Lucas Thaynan

Matéria foi produzida com apoio da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, que promove ações que colaboram para o desenvolvimento integral da criança, com foco na primeira infância.

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