
A cidade de São Desidério, localizada no Oeste da Bahia, alcançou o maior volume de emissão de carbono do Nordeste. Segundo dados do Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG) analisados pela Agência Tatu, o município lançou na atmosfera 7.939.396 toneladas de CO₂ em 2023.
Este número representa um crescimento de 84% nas emissões de gases de efeito estufa entre 2021 e 2023, o que significa que, em apenas dois anos, São Desidério quase dobrou seu impacto no clima.
Para colocar em perspectiva, o volume emitido de carbono pelo município de pouco mais de 33 mil habitantes equivale a mais da metade do total registrado em São Paulo (14.472.375 t), uma metrópole com uma população 345 vezes maior, de quase 11,5 milhões de pessoas.
Veja o ranking das cidades que mais emitem carbono no Brasil:
Mudanças de uso da terra e da floresta
Em São Desidério, a principal fonte de emissão de gases de efeito estufa vem da mudança no uso da terra e da floresta. O setor foi responsável pela liberação de 7 milhões de toneladas de CO₂, o que equivale a 88% do total emitido pelo município, tendo o desmatamento como principal vetor.

Outras fontes de emissão relevantes incluem o carbono orgânico do solo (549.328 toneladas), o manejo de solos agrícolas (495.141 toneladas), os resíduos florestais (310.547) e a fermentação entérica (152.512), processo digestivo de animais como bois e vacas. Juntos, esses dados confirmam a atividade agropecuária como a grande responsável pelas emissões na região.
Desequilíbrio no clima da terra
Para explicar a conexão entre a atividade agropecuária e o aquecimento global, David Tsai, engenheiro químico e coordenador do painel SEEG, detalha como o processo funciona.
“Os gases de efeito estufa são gases emitidos pelas atividades humanas, como queima de combustíveis fósseis, desmatamento, criação animal, principalmente a pecuária. Essas atividades, entre outras, emitem gases que vão para a atmosfera e esses gases, acumulando na atmosfera, aprisionam o calor que vem do sol. E aí estão causando essas mudanças climáticas, causando eventos extremos, como enchentes, secas, que a gente vem desequilibrando o clima”, afirma.
O especialista ressalta a urgência de monitorar e controlar essas emissões de carbono para evitar que as mudanças climáticas se intensifiquem. “É importante a gente monitorar esses gases, justamente porque a gente precisa reduzir as emissões. A gente precisa controlar, a gente precisa parar de emitir esses gases, para que o clima não mude tanto, e com isso a gente consiga ter uma vida melhor”.
Retrato de São Desidério
São Desidério, o segundo maior município em extensão territorial da Bahia, tem a maior área territorial plantada da Bahia, além de ser um grande produtor de grãos e algodão.

O coordenador do painel explica que o município está inserido na região do Matopiba, onde ocorre uma forte expansão agrícola e abrange partes do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. Os dados do SEEG funcionam então como um diagnóstico preciso.
“A atividade de desmatamento é muito forte, muito intensa no Matopiba e é isso que causa as emissões em municípios como o de São Desidério. São Desidério tem quase 90% de suas emissões atreladas ao desmatamento”, conclui.










