A Bahia registrou 945 assassinatos de adolescentes e 48 homicídios de crianças somente em 2023, os dados são do Atlas da Violência 2025, produzido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e divulgado no último mês.
A Agência Tatu analisou os dados da publicação e identificou que o estado nordestino lidera os rankings nacionais de mortes violentas tanto de crianças na faixa etária de 5 a 14 anos quanto de adolescentes entre 15 e 19 anos.
Para identificar o total de jovens assassinados, a publicação do IPEA calcula o número de homicídios na região pela soma dos óbitos causados por agressão, intervenção legal e operações de guerra.
Proporcionalmente, a Bahia é ainda o segundo ente federativo com a maior taxa de homicídios de adolescentes. Foram registradas 83,4 mortes a cada 100 mil habitantes. Entre as crianças, a taxa é de 2,3 mortes por 100 mil habitantes e o estado fica, proporcionalmente, em terceiro lugar no triste ranking dos que mais perdem meninos e meninas para a violência no Brasil.
Tráfico potencializa violências
De acordo com o advogado Roberto Moura, pesquisador de ciências criminais e diretor do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais, os homicídios estão diretamente ligados aos mercados ilegais, especialmente de drogas.
De acordo com o especialista, a região Nordeste passa por uma expansão faccional que é fruto de décadas de políticas neoliberais que devastaram as economias locais, criaram desemprego estrutural e deixaram o Estado presente apenas através da polícia e do sistema penal.
“As vítimas têm perfil muito claro: homens jovens, negros, pobres, moradores de periferias. Isso não é coincidência – é produto direto do racismo estrutural e do controle social que tem matriz colonial escravagista”, explica Moura.
Para o advogado, o estado da Bahia lidera esse ranking porque se tornou epicentro da expansão desses mercados ilegais e o estado respondeu apenas com mais repressão policial, criando um ciclo vicioso de violência.
“As políticas de segurança pública implementadas na Bahia nas últimas duas décadas demonstram que o fracasso nesta área transcende questões partidárias ou ideológicas. Observamos a manutenção de práticas autoritárias que se legitimam através do discurso de combate à criminalidade, mas que na realidade configuram um estado de guerra, terrorismo de Estado e negação sistemática de direitos fundamentais”, conclui.

O que diz o governo da Bahia
Procurada pela reportagem, a Secretaria da Segurança Pública da Bahia (SSP/BA) ressaltou em nota que as ações de inteligência e o enfrentamento a facções criminosas contribuíram para redução de 9% das mortes violentas na Bahia.
O órgão acrescenta ainda que nos últimos dois anos os casos de homicídio, latrocínio e lesão dolosa seguida de morte apresentaram diminuição de 6% (2023) e 8,2% (2024).
Por fim, a SSP/BA informou que as ações do programa Bahia Pela Paz, voltadas especificamente para a juventude, possibilitaram a contratação de 6 mil policiais e bombeiros e a ampliação dos equipamentos de inteligência.