Cobertura da vacina BCG despenca no Nordeste, aumentando o risco de casos graves de tuberculose

Na região, os casos de tuberculose em crianças de até 4 anos saltaram de 250 em 2014 para 396 em 2024.

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No Nordeste, a cobertura vacinal despencou entre 2014 e 2024. De acordo com dados dos Indicadores de Imunização do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems), analisados pela Agência Tatu, a cobertura vacinal da BCG caiu 7% nos últimos 10 anos, fazendo com que alguns estados não atinjam a meta, aumentando o risco de casos graves de tuberculose.

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A vacina BCG recebe esse nome pois é produzida a partir do bacilo de Calmette-Guérin, uma forma enfraquecida da bactéria causadora da tuberculose. A aplicação da BCG geralmente deixa uma cicatriz característica. Foto: Julia Prado/MS

O Ministério da Saúde estabelece para a vacina BCG uma meta de 90% de cobertura para a população alvo. 

Até 2023 o índice era calculado dividindo o número de doses aplicadas pela população alvo e multiplicando por 100, a partir de 2024 o índice foi revisado de modo a evitar dados duplicados. De todo modo, a taxa de cobertura vacinal pode ultrapassar 100%. Isso pode ocorrer tanto por pessoas que são vacinadas fora do município de residência quanto por divergências da projeção populacional. 

Em 2014, a cobertura da BCG no Nordeste era de 106%. Nos anos seguintes, o índice passou a cair, e em 2019 a cobertura vacinal da região ficou abaixo da meta pela primeira vez. As maiores quedas do Nordeste foram registradas no Maranhão e na Bahia, ambos os estados ficaram fora da meta de cobertura no ano passado.

Veja o gráfico com a cobertura vacinal da BCG no Nordeste:

A vacina

A Agência Tatu conversou com o pesquisador Jesem Orellana, epidemiologista da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). O especialista destaca que a vacina BCG é um dos mais antigos imunizantes já desenvolvidos e que além de proteger contra as formas graves da tuberculose, também ajuda a controlar a doença de forma geral. 

A recusa vacinal e o crescente movimento negacionista à ciência parecem estar entre os principais motivos [da menor vacinação]

“Trata-se de uma potente e conhecida ferramenta da saúde pública, na medida em que ajuda a controlar a doença e a evitar gastos, desperdício de esforços sanitários para a identificação e tratamento de doentes por tuberculose”, explica.

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FOTO: Reprodução/Amazônia Real

Para o cientista, o fenômeno da queda de coberturas vacinais é mundial. “Há muitos problemas que explicam essa lamentável queda, mas a recusa vacinal e o crescente movimento negacionista à ciência parecem estar entre os principais motivos. Há também problemas como o registro dessas doses aplicadas em maternidades que pode explicar parte dessa queda”, comenta.

Casos de tuberculose aumentam


De acordo com o especialista, a diminuição das coberturas vacinais está diretamente ligada ao aumento da incidência da doença. O imunobiológico tem a função específica de prevenir e proteger contra novos casos, em especial as formas mais graves ou extrapulmonares da doença, como as formas miliar e meníngea.

O Datasus revela um aumento significativo da doença no Nordeste. Considerando apenas o público-alvo da vacina (crianças de 0 a 4 anos), a incidência da tuberculose cresceu 58,4% entre 2014 e 2024, saindo de 250 novos casos em 2014 para 396 notificações em 2024.

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