Copa do Mundo 2022 expande discussão sobre direitos humanos no Twitter

Mulheres e pessoas LGBTQIA+ são os mais oprimidos pelas regras religiosas e sociais do país sede da competição

Capa da matéria "Copa do Mundo 2022 expande discussão sobre direitos humanos no Twitter". Ilustração digital com um fundo bordô igual a cor da bandeira do Catar com um casal homoafetivo beijando-se mas censurado.
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Por sediar a Copa do Mundo FIFA de 2022, o Catar entrou no radar mundial ao expor suas regras que inibem direitos básicos da população. Nas últimas cinco semanas o assunto “direitos humanos + Catar” foi tuitado mais de 43 mil vezes somente em português, tendo termos relacionados como “homofobia”, “transfobia”, “estupro” e “escravidão”.

A Agência Tatu coletou tweets sobre a temática nas últimas cinco semanas, utilizando a ferramenta Trendsmap. Além disso, foram coletados os dados de índices como o Democracy Index e Freedom House.

De acordo com o Democracy Index, ranking da Economist Intelligence que classifica o status democrático dos países, o Catar ocupa a 53º posição de país menos democrático entre os 167 países analisados pela pesquisa. O país sede da Copa do Mundo deste ano é classificado como um país sob regime autoritário e está na mesma categoria que a Rússia, Iraque, Cuba, China e Venezuela.

Já o Freedom House classifica o Catar como um país “não livre”. Assim, a população catari tem pouca liberdade civil e poucos direitos políticos – o país tem uma pontuação de 25 em uma escala que vai a 100.

A Freedom House é uma organização americana sem fins lucrativos integrante da International Freedom of Expression eXchange (IFEX). A organização faz parte de um conjunto de 71 ONGs que promove e advoga o direito à liberdade de expressão e defendem o avanço da liberdade através de pesquisas e relatórios relacionados à democracia e direitos políticos

Debates no Twitter

Apesar dos dados e das pesquisas evidenciarem possíveis condições sociais do país, as discussões no Twitter expuseram o que acontece no país para todo o mundo.

Com mais de 57 mil likes e 6 mil retweets, o post com mais destaque no Twitter sobre o assunto é de uma página brasileira que reuniu diversos descumprimentos aos direitos humanos no Catar.

Um dos casos que mais chamaram a atenção do público é sobre a negligência do governo do país que negou direitos trabalhistas básicos aos operários e trabalhadores migrantes, resultando em mais de 6.500 mortes entre 2010 e 2022, nas construções voltadas à Copa; estádios, redes de hotéis, aeroporto internacional e metrô.

O Catar, que assim como os demais países do Golfo Pérsico, é de religião muçulmana e, consequentemente, limita socialmente diversos grupos minoritários, como as mulheres e as pessoas LGBTQIA+. O país é um dos 70 países onde a homossexualidade é considerada crime e a demonstração de afeto em público não é permitida.

O Catar já foi notificado pela Human Rights Watch, uma organização internacional de direitos humanos, não-governamental, sem fins lucrativos, que é reconhecida por investigações aprofundadas sobre violações de direitos humanos, relacionados a assédios e abusos severos contra pessoas trans e travestis. Entre as ações realizadas pelas autoridades do Catar, as vítimas precisavam entregar seus telefones para serem vasculhados e só eram liberadas após atenderem a consultas de “regressão sexual”.

Manifestações e impedimento da FIFA

Pouco antes do início da Copa, a FIFA vetou a camisa de treino da Dinamarca com a frase “direitos humanos para todos”, sob a justificativa de que se tratava de posicionamento político.

Além disso, alguns jornais locais do Catar ironizaram as manifestações pró-LGBTQIA+ feitas pela seleção alemã antes do início da partida com o Japão. Consumir ou vender bebida alcoólica dentro dos estádios ou em locais públicos também são atitudes que geraram repercussão.


Esta reportagem só foi possível graças a uma parceria com a Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV-DAPP), que ofereceu treinamento, financiamento e acesso a plataformas de análise de redes sociais.

Dados abertos

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