O número de jovens com carteira de motorista caiu no Brasil, mas aumentou nas regiões do Norte e Nordeste entre dezembro de 2024 e junho de 2025. Ao todo, mais de 8 mil novos condutores na faixa de 22 a 25 anos passaram a ter a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) no período, como mostra uma análise feita pela Agência Tatu a partir de dados da Secretaria Nacional de Trânsito (SENATRAN).
Enquanto nas duas regiões houve aumento, um movimento contrário foi identificado nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, que registraram uma queda de mais de 19.906 jovens sem carteira de motorista válida no mesmo período.
A variação no total de habilitados entre 2024 e 2025 indica o saldo de condutores por faixa etária, e não o número exato de novos motoristas. Esse total geral é dinâmico, pois é afetado por fatores como renovações, cassações, falecimentos e a própria transição das pessoas de uma idade para outra.
Veja o saldo de pessoas com carteira de motorista em cada faixa etária:
Para Francisco Rosário, professor e pesquisador em economia, o aumento no Norte e Nordeste no número de habilitações é uma combinação de economia e comportamento da geração Z, que enfrenta um mercado de trabalho com empregos de baixa remuneração.
“Você não compra carro, não tem condição de comprar o carro, mas tem condição de pagar uma moto. Quando você está empregado, isso facilita a mobilidade urbana pelo menos no Nordeste. O Nordeste é o principal mercado de motos do Brasil e você tem uma demanda muito forte para a moto, porque você tem essa facilidade de transporte para não ficar esperando o ônibus”, pontua.

Segundo o especialista há uma mudança cultural. “Então a geração Z também tem a escolha, hoje é muito comum ter a escolha, fica na casa dos pais, usa o carro dos pais, trabalha de casa. Trabalhar perto de onde mora, então você tem toda uma questão aí também de evitar essa demanda comportamental, essa questão comportamental.”
Mudança no status
Para Rosário, o comportamento dessa geração mais conectada favorece a economia do compartilhamento. “A geração Z, por estar mais conectada, usa o Uber. Sem problema, compartilha Uber inclusive, não tem erro. Então tudo isso faz com que a carteira de motorista comece a ser cada vez mais supérflua. Se houvesse uma demanda tão forte, não existia essa proposta de redução, de zerar o custo da CNH”.
“O automóvel, se não for mobilidade para trabalhar, você termina perdendo o sentido do ponto de vista econômico, cultural e comportamental para a geração Z”, Aspas em destaque no texto.
É o caso do estudante de Relações Públicas Igor Rebêlo, de 22 anos, que mora em Maceió. Ele se locomove de ônibus e Uber e sente que a falta da CNH o prejudica, mas o preço alto é o que define sua escolha de não ter o documento. “Eu pretendo sim ter, mas não sei quando poderei, tendo em vista condições financeiras principalmente pra comprar um carro, mas sinto que se eu dirigisse seria muito mais fácil minha vida principalmente quanto a trabalho”.

CNH na “lista de espera”
Igor aponta que o transporte por aplicativo, embora seja uma alternativa, pesa no bolso. “Considero um grande gasto. Acho que é o tipo de gasto que consideramos pequeno, mas no fim do mês vira um grande valor acumulado, se esse processo todo de ter habilitação fosse mais barato eu mudaria a minha decisão, acho que me prejudica sim quanto a muita coisa, principalmente precisando muitas vezes de transporte público”, relata.
De acordo com o estudante, a decisão de tirar a CNH hoje compete diretamente com necessidades mais urgentes. “Acho que principalmente a necessidade de investir em outras coisas, outras prioridades, se não a carteira ia ficar aqui mofando, é tudo o que me segura para não fazer a carteira por agora”, explica.
O que diz o Ministério dos Transportes
Segundo o Ministério dos Transportes, o alto custo do processo é um dos principais fatores para a diminuição de habilitados. “A Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran) atribui a queda no número de jovens com carteira de motorista a vários empecilhos enfrentados pela população no modelo atual para obtenção da CNH. Entre eles, o alto custo, principalmente na região Sul, onde estão dois dos estados entre os que têm valor mais alto – Rio Grande do Sul e Santa Catarina”.
A Senatran indicou que já busca soluções para reverter o cenário. Recentemente uma consulta pública sobre a proposta para democratizar o acesso à Carteira Nacional de Habilitação foi realizada em todo território nacional. “A Senatran já está analisando as contribuições feitas na Consulta Pública que encerrou no último dia 2 de novembro, para apresentar uma proposta de CNH mais acessível”, informou em nota.









