Especialistas explicam por que rompimento de mangueira pode ser causa de acidente na Serra da Barriga

Tragédia ocorrida no último domingo (24) em União dos Palmares deixou 18 mortos e mais de 20 feridos

Foto: Orlando Costa | Ilustração: Edson Borges
Imagem da Serra da Barriga de drone, em preto e branco, com os dizeres Serra da Barriga acima.
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No mês em que é celebrado o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, uma tragédia ocorrida na terra do líder quilombola deixou o estado de Alagoas de luto. Um ônibus antigo que subia a Serra da Barriga, em União dos Palmares, para levar cerca de 45 pessoas para observar o pôr do sol e aproveitar as programações culturais no Quilombo dos Palmares — patrimônio cultural do Mercosul e do Brasil — capotou de uma ribanceira e deixou 18 mortos e 28 pessoas feridas, no último domingo (24).

Segundo informações dos órgãos oficiais, apuradas pela Agência Tatu, entre as vítimas fatais estão crianças, adolescentes, adultos e idosos que iriam participar do evento Pôr do Sol na Serra, promovido pela Prefeitura do município, que consiste em fornecer o transporte para que famílias possam subir a Serra da Barriga para apreciar o pôr do sol, a natureza e assistir as apresentações culturais e musicais no solo sagrado.

Ônibus capotou em ribanceira na Serra da Barriga. Foto: Ascom CBMAL
Ônibus capotou em ribanceira na Serra da Barriga. Foto: Ascom CBMAL

Ônibus teria apresentado defeito

De acordo com a prefeitura de União dos Palmares, o veículo escolar envolvido no acidente “era terceirizado e estava com todas as vistorias em dia, tendo passado por inspeção recente, realizada poucos dias antes do ocorrido”.

Contudo, o relato de uma pessoa que estava no ônibus envolvido no acidente e saiu minutos antes de acontecer a tragédia deixa rastros para um possível defeito que teria ocorrido no ônibus ao subir a serra.

Segundo o áudio divulgado pela TV Pajuçara atribuído a Matheus Lopez, morador de União dos Palmares, em determinado ponto da subida na Serra da Barriga, o motorista do ônibus informou aos passageiros que a mangueira de ar do veículo teria estourado e, devido a isso, todos teriam que descer para aguardar os próximos ônibus para continuar o trajeto.

“A mangueira do ar estourou e daí o motorista falou ‘óh, vai ter que descer todo mundo para ir subindo nos outros ônibus que estão vindo, subindo’, e quando ele abriu a porta só deu tempo de eu descer. Eu desci do ônibus, dei dois passos, quando eu virei pra trás o ônibus já estava descendo, o motorista desesperado ‘botando’ o volante para um lado e para o outro, e o pessoal todo gritando. Foi questão de menos de um minuto para tudo isso acontecer. Foi muito rápido ”, diz Matheus em um trecho do áudio.

Imagem que mostra õnibus após acidente na Serra da Barriga. Foto: Ascom Samu-AL
Imagem que mostra õnibus após acidente na Serra da Barriga. Foto: Ascom Samu-AL

Com base no relato da testemunha, o engenheiro mecânico Luiz Lourenço acredita que a hipótese do que teria provocado o acidente pode fazer sentido. “A mangueira do sistema pneumático alimenta os freios diretamente. O rompimento dessa mangueira leva o balão de ar comprimido a esvaziar de forma acelerada, proporcionando assim a falta de pressão na linha de freio. Para uma conclusão, seria preciso uma vistoria no veículo”, afirmou. 

As fotos do ônibus após o acidente e as condições em que o veículo ficou não favorecem a identificação do modelo do transporte coletivo, mas Luiz, pós graduado em perícias e avaliações, detalha algumas características e aponta o que seria necessário para o bom funcionamento do ônibus. 

“Esse tipo de veículo é uma carroceria montada em um chassi que equipa vários modelos. Há vários problemas que podem surgir pela falta de manutenção preventiva, que deve ser feita a cada três meses. Nesse modelo de veículo é comum surgir problemas de freio, suspensão e sistema elétrico”, detalhou o mecânico que já tem 15 anos de experiência no segmento.

Imagem de drone mostra dimensão da Serra da Barriga, na Zona da Mata alagoana.
Imagem de drone mostra dimensão da Serra da Barriga, na Zona da Mata alagoana. Foto: Orlando Costa.

A Agência Tatu ouviu também o professor de Mecânica do Senai, Airton Silva, que reforça que faz sentido a hipótese do rompimento da mangueira de ar. “Para ter perdido o controle só pode ter sido a mangueira de ar do freio, pois estes ônibus têm o acionamento a ar comprimido”, explica. “Como todo sistema de segurança, é necessário que seja realizada a manutenção preventiva”, acrescenta Airton.

Uma motorista de ônibus de União dos Palmares, que preferiu não se identificar, informou à reportagem que o veículo aparenta ser um modelo da Volkswagen com carroceria Comil e ano 2008.

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Investigações

O Ministério Público do Estado de Alagoas (MPAL) requisitou à Prefeitura de União dos Palmares, na segunda-feira (25), “informações a respeito das condições do veículo, como comprovação da inspeção semestral exigida pelo Código de Trânsito Brasileiro, assim como a justificativa do uso do transporte escolar para referida finalidade. O município terá 48 horas para apresentar uma resposta”, afirmou o órgão, em nota.

Além disso, o Ministério Público também informou ter solicitado a instauração de inquérito à Polícia Civil, “de modo que possa ser apurada a causa do acidente que tirou a vida de 18 alagoanos”.

Por sua vez, a Polícia Civil de Alagoas abriu um inquérito para investigar o acidente e, segundo informações obtidas pela Agência Tatu por meio da assessoria, ainda nesta terça-feira (26) o órgão vai ouvir testemunhas e sobreviventes da tragédia, como a esposa do motorista do ônibus  — que relata reclamações recorrentes de Luciano de Queiroz Araújo (47) sobre a manutenção do veículo —, além do proprietário do coletivo, e o produtor do evento Por do Sol na Serra.

O procedimento policial está sob responsabilidade da Delegacia Regional de União dos Palmares, comandada pelo delegado Guilherme Iusten. O delegado-geral da Polícia Civil, Gustavo Xavier, e o secretário de Segurança Pública, Flávio Saraiva, determinaram celeridade no processo investigativo.

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